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palavrão é aquilo que me sai quando bato com o dedo mindinho do pé numa esquina dura qualquer. palavrão é aquilo que vocifero quando o benfica está a perder ao mesmo tempo que a vida anda uma chatice, e aquilo que arreganho entredentes por ser obrigada a conviver com o exercício de uma sobranceria tão enormesca quanto inusitada sobre esta empresa redonda e azul, que é coisa de todos, por parte de meia dúzia de amebas desqualificadas, e a saber que somos nós que deixamos que assim aconteça. o que é dor bem pior do que a tal do dedo do pé, e por isso merece uma respiração diferente, mora noutro espectro do palavrão. porque o mundo dos palavrões tem muitos espectros, pertence a muitos mundos. e um mundo sem palavrões não ia ter porra de piada nenhuma. os jogos de futebol iam perder metade do interesse. as quecas um terço. e pelo menos um quarto dos livros que ficaram para a nossa breve história da literatura iriam à vida. um mundo sem palavrões acabaria por perpetuar um enorme défice de abraços. e os abraços são bons para toda a gente, fazem bem à circulação. o palavrão, como um bom abraço, saído das profundezas do peito, faz muito mais pela nossa saudinha irrigatória do que qualquer água benta do respeitinho ou mezinha do bom tom. e quem é que não gosta de abraços, ora digam lá?

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