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Uma vez olhei para trás e estavas lá. Virei-me para a frente. Continuei a caminhar. (Eu caminho sempre. Tu não sabias?). Olhei para trás e lá estavas. Depois seguiste a meu lado. E não saíste mais de lá/ cá… Onde e quando é que isso foi?

As pessoas que conhecemos fazem sempre parte de nós. Fazem-nos crescer, ramificam-se para além de nós. E essa certeza de orbitar para sempre cai-nos ao colo.

Somos aquilo que devemos ser, podemos ser, queremos ser. Com quem está ao nosso lado.

Respira, com calma. A vida é feita de inevitáveis e, inevitavelmente, era inevitável, que o inevitável não se evitasse. Éramos inevitáveis um do outro e, já viste o absurdo, crescemos em saudade e pensamento na hora da despedida, porque é livre como o vento.

A liberdade é uma coisa engraçada. Desenrola-se em meadas de lã pelos sótãos da nossa cabeça e nós deixamo-la a rodopiar pelo chão como nos filmes de cowboys. Sabes? Antes do duelo do pôr-do-sol, no frente a frente. A liberdade é um pouco assim, põe-te frente a frente contigo próprio. Devem ser esses os “macaquinhos do sótão” de que toda a gente fala… Tu conheces os teus? Os meus procuram o mundo do fim do mundo. Está lá longe, muito ao fundo, nessa estrada-caminho-de-cabras que eu não tenho debaixo dos pés.

Há uma música do Caetano, sobre São Paulo, que me faz lembrar de ti: Narciso acha feio o que não é espelho. Achava eu. Mas tu foste mais espelho do que aquilo que eu esperava. E, curiosamente, o reflexo assusta mais. É absurdo, não é? Os paradoxos da vida, o reverso da medalha… Eu não quero uma medalha. Não quero nada físico-tocável-objecto. Quero o levitar permanente e a fuga à gravidade, à realidade. Nós somos exímios nisso, reparaste?

As histórias entrelaçam-se nas histórias que se entrelaçam nas histórias, como fios de cabelo numa trança mal amanhada.

– Não é assim que se prende o cabelo.

E eu sempre a tentar. Só sei fazer tranças aos outros, sabias? Em mim, só aquele puxo mal-alinhavado que nem é puxo nem é nada. É um rabo-de-cavalo dobrado a meio. E o cavalo continua a correr.

Agarra-me a mão.

Esse medo que eu vejo aí. Não sabia que existia. Comigo és sempre tão forte. Excepto quando não és. Eu, excepto que não fui, nunca, contigo.

O reflexo assusta mais que qualquer não-reflexo em água turva.

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… O tempo respondeu ao tempo…

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